sábado, 15 de dezembro de 2012

Anis nas ciências da educação


Cemitério do Cunje, antiga Gare

Faça a seguinte experiência: crie duas escolas secundárias, uma para os alunos entrarem "de imediato" no mercado de trabalho e outra para os estudantes "prosseguirem", posteriormente, os seus estudos. Agora verifique as origens sócio-económicas e culturais dos "utentes". Não nota nada?, então voltemos à experiência do passado:

No período colonial, em cem alunos de liceu - estabelecimentos vocacionados para o ensino propedêutico à universidade -, noventa e cinco eram filhos de colonos, "brancos", portanto, pessoas com pouca melanina; os outros cinco eram de pele escura, "corados", "tintos", "tingidos" pela melanina da pele. O inverso verificava-se nas escolas "técnicas", em cem alunos, noventa e cinco eram "escuros"; e, no seio deles, os "alvos" mas "pouco brilhantes", os cinco filhos de colonos.

Nem em laboratório, com os usuais corantes químicos, se conseguiria tanta clareza, tanta "diferenciação" sobre as escolas técnicas e os liceus. Contudo, a proposta que aí vem do governo é esta, "importada da Alemanha". A antiga ministra, MLRodrigues, referiu-se há tempos que a própria Alemanha - dos últimos países a conservar este anacrónico sistema de ensino -, estava a reconsiderar o modelo. 

Em conclusão, a medida é puramente ideológica, se houvesse a preocupação genuína em combater o insucesso escolar com alternativas mais práticas para os alunos "desinteressados", investiam no currículo comum a todos, flexibilizavam-no, aprofundavam as aulas práticas de evt, voltavam à área de projeto, e compravam mais tico-ticos, computadores... para que todos, incluindo os futuros "doutores", soubessem martelar um prego.

O resultado de passarmos por mais uma experiência deste género vai ser um retrocesso enorme em termos sociais, reproduzir-se-ão as "cores" como vimos, mas também haverá um abaixamento do nível educativo médio, porque para se ser bom "engenheiro" é preciso pôr o capacete e ir às obras. É grave, o Seguro devia exigir eleições. Já. Uma coisa é entregarmos subsídios, outra, é renunciarmos à dignidade humana.

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