quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Os jogos olímpicos e o desporto escolar

No conjunto de fatores a montante que explicam o nosso baixo nível desportivo olímpico com certeza que está a ineficácia do desporto escolar. O desporto integrado no sistema educativo tem enormes potencialidades, desde logo porque é lá que estão todas as crianças e a maioria dos técnicos formados, mas também tem fortes constrangimentos como os transportes e a dificuldade em elaborar um simples calendário competitivo comum. Mas vamos imaginar que, concetualmente, se ultrapassavam estes obstáculos. Mesmo assim, tenho dúvidas na sua execução. Nos anos oitenta, o grupo que trabalhou a reforma educativa (Roberto Carneiro e outros) fez um diagnóstico certíssimo, preparou a lei de bases do sistema educativo e tudo se fez, desde então, do ponto de vista do enquadramento legal, para que o ensino chegasse a todos, para que as oportunidades fossem efetivamente iguais e se acabasse de vez com o triste insucesso escolar. E a verdade é que continuamos na cauda da Europa na democratização educativa. A aplicação da lei defrontou sérias resistências, e depois de 2008 a toda a hora e em todos os meios de comunicação só se ouviu falar em facilitismo, em eduquês e em mudar de paradigma, a uns por ingenuidade, a outros para que os seus filhos fugissem ao ranho dos pobres, e a outros por defenderem implícita mas conscientemente, uma sociedade desigual e que quanto mais desigual fosse melhor para eles. Chegou então a ministro um porta-voz desta mudança anacrónica, anacronismo mais visível com o aumento da escolaridade obrigatória. E é portanto a nossa incapacidade de cumprir as leis que põe em causa a bondade de um desporto escolar de formação inicial de campeões olímpicos e não a difilculdade da sua idealização ou da sua regulamentação.
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