domingo, 4 de março de 2012

Lições da porta


Quando vou à mercearia aqui ao pé de casa pergunto aos donos como vai o mundo. Eles têm uma mundividência muito típica, explicam tudo pelos trocos, estendem a velha contabilidade à política e ao país. O "deve" e o "tem a haver" sai da mercearia e dá duas voltas ao globo e volta numa breve síntese. Assim vão as coisas. A sociedade é exageradamente insegura e mal governada, mas não deixam de ter a sua lógica e o exercício desta mesquinhez é um bom temperador para os caráteres, convenhamos. Fui ver "a dama de ferro". O pai de Margaret Thatcher tinha duas mercearias e a rapariga levou uma das caixas registadoras pela porta fora e levou-a porta-a-porta. Voltou mal, claro. O mundo devolveu-a em trocos: ferrugenta pela humidade e demente ou quebrada pela fixidez do ferro.

***