domingo, 26 de fevereiro de 2012

Fasquias


O limiar anaeróbio é uma fasquia muito interessante, quanto mais alta a tivermos melhor, mas ultrapassando-a perdemos. Não é necessário entrar em explicações técnicas, para o caso basta perceber a importância da sua função e da sua mobilidade. Todos nós temos um limiar anaeróbio, quem for resistente, por exemplo, o seu limiar é muito alto, quem tiver uma má condição física o seu limiar anaeróbio é muito baixo - necessita de máscara de oxigénio para subir um lancil. O conceito desta tolerância precária ao esforço pode servir de analogia ao 'limiar social' que não só varia de pessoa para pessoa mas também de época para época, dependendo das condições económicas e políticas. Na Alemanha de trinta, do século passado, o limiar de tolerância social foi baixando sem as pessoas se aperceberem. Não foram só os pogrons, às tantas, dizem os livros, iam buscar um velho, um judeu, um deficiente, um homossexual, e a vizinhança acabou por achar normal e tolerar a exterminação. A frase de Pedro Passos Coelho sobre a emigração dos professores revela a descida de um nível neste limiar de sensibilidade social. É apenas um degrau, talvez muito pequeno, mas depois poderá vir outro, e outro e outro. Desligar máquinas, eliminar pessoas... Mas o embrutecimento é real, ouvi pessoas a darem razão ao primeiro-ministro sem se aperceberem que há poucos anos considerariam a opinião dele chocante. Limiar ao alto, não tanto para a história nos absolver ou salvarmos listas de almas, mas para respirarmos. Ou para não passarmos a fasquia por muito que tentemos.

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