Talvez o maior poeta vivo da língua portuguesa seja o Manoel de Barros. A saudade pode ser melancolia mas rã, pedaço de chão que salta, não tem equivalente noutras línguas. No Báltico não sei como diriam, cinzenta a terra que piso, porque nenhuma língua vive só de palavras e sem poesia, nenhuma. E o absolutismo da poesia coincide e morre com a realidade, é o cheiro, as chaves*, o calor, a cor, a respiração, o vento da anhara, a surucucu, o sangre raiano. Aceitam-se exercícios metafísicos e até comparações de significantes mas a poesia é o agnosticismo puro e total, como o chão de Manoel de Barros, o que pisamos ao fim e ao cabo.
* as chaves
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