Silva Porto, 1955
Take time to play, it is the secret of perpetual youth. O ditado inglês só não é completamente correto porque dá a ideia que a seriedade da vida passa à margem do jogo, distingue-os. Mas quem não trabalha como se jogasse, e não jogue como se fosse a coisa mais séria do mundo não é livre, porque a simulação dá-nos autonomia e, inclusivamente, criatividade no dia a dia. Mas os ingleses, apesar da dicotomia, reconhecem o papel do jogo na saúde e descartam a rigidez como único modo de vida, o que é, em si, um sintoma de sabedoria. E talvez seja por isso que gostamos muito dos Monty Phyton.
Os portugueses neste aspeto são muito piores, às vezes oiço colegas professores a desprezar completamente as potencialidades educativas das atividades lúdicas. Lá lhes pergunto se o que aprenderam foi o que viveram com prazer ou se foi o que «memorizaram» com esforço e de forma repetida. Não sou contra a tabuada, nem contra as capitais, nem contra os afluentes, nem contra as declinações, não, o que me parece é que um dos vícios do nosso ensino é essa soberba «disciplinar», essa seriedade precoce, o ensino não está mal pelo excesso de ludismo, mas precisamente porque nunca compreendemos a sua função vital. Temos uma relação péssima com a vertigem, com a loucura da brincadeira.
No entanto, o simulacro tem uma função na vida, é uma proa que sulca a realidade. Antecipa. Ontem ou anteontem, no P2 do público, vinha um artigo sobre a origem da fala. Básicamente defendia que o «homem», primeiro, comunicou por caretas, facécias, esgares, exprimindo uma linguagem facial motora. Os sons articulados da fala não surgiram do nada, essas mascaradas prepararam o aparelho fonador, bem sintonizado com o cérebro que lhe deu largueza de espaço. Agora imaginem que a espécie não era profética, não arriscava, não jogava, chegaríamos aqui? Teríamos Crato?
A própria História, aparentemente ao-deus-dará, também é, quer queiramos quer não, idealizada como quem joga; o caminho não se faz caminhando? A função não faz o órgão? Que mais quereis para tomardes o futuro nas mãos? pontos e vírgulas? Se o futuro é um realce, um sulco na pele porque não jogais?
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...e prometo que vou ler o artigo do público. Só li ainda o título.