segunda-feira, 10 de junho de 2013

«Paidós» e «agodé»

A crise avivou os contornos do falhanço da educação democrática. Para o pouco êxito contribuíram muitos fatores. Um deles é o chamado «corporativismo» da incontornável classe dos cento e quarenta mil professores. Não foi por falta de leis, por falta de vontade política ou por ausência de recursos que a Educação falhou do 25 de abril para cá. É verdade que, quando comparada com o período da ditadura está muito melhor, mas quando confrontada com a dos países europeus, a Educação portuguesa revela ainda baixa escolarização e muita retenção por anos de escolaridade. E é aqui que eu penso que poderíamos ter ido mais longe enquanto professores. Para o desempenho docente reivindicámos uma avaliação genérica muito soft, um relatório, um autoelogio até, já para os alunos fomos, como está à vista, «exigentes» e «rigorosos». Tivemos um paradigma generoso mas centramos muito a luta educativa em torno de nós. Contudo, o falhanço atual da Educação não é tanto por motivos de incumprimento corporativo mas porque os responsáveis políticos mudaram o seu paradigma. Mudaram o currículo que está a diminuir e a «licealizar-se», «picaram» a avaliação que, agora sim, está a diferenciar legalmente a criançada em «favorecidos» e em «desfavorecidos», aumentaram a pressão nos professores com mais carga horária e mais alunos por turma, e fizeram outras adaptações, todas apontadas para um modelo educativo duplo: privado e elitista de um lado e «público» do outro. Falhanço múltiplo: o país atrasa-se globalmente, perde coesão educativa e os professores além de trabalharem em piores condições, veem-se funcionários desta nova «linha de montagem».
Faço greve.

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