terça-feira, 4 de junho de 2013

Estética «negra»

 
O mesmo apelo de um cão «assassino»
 
Há muitos anos, em Angola, ouvi de alguém uma frase que me intrigou bastante. Só percebi o alcance de «não tenho com quem conversar» quando me tornei adulto e muito tempo depois de me lavrar, gradar e cultivar. Hoje, voltei a lembrar-me dela ao ter perdido o amigo António Rosa Mendes. «Ouvir e falar com quem», pode ser, sim, a dúvida duma vida. O Rosa Mendes, entre todos os meus amigos e conhecidos, era dos que mais elevava as conversas.
 
Pela segunda vez vi um corvo em cativeiro e tal como da primeira vez, voltei a ficar embasbacado. A impressão imediata é de inteligência, da vivacidade profusamente demonstrada nas bicadas, nos vaivéns, nos «ladrares» e noutras vocalizações para chamar a atenção. Depois, é o corpo que é forte, luzente e com perfil aerodinâmico, um conjunto de partes bem proporcionadas, sobretudo na agressiva mas elegante ligação entre a cabeça e o bico. Andava à procura de estrume quando fui parar àquele bazar. Desde o corvo, ao proibidíssimo corvo, até artigos para higiene, de tudo há para venda naquele sítio. Trouxe alhos mas podia ter trazido um tonel. Ainda hesitei.
 
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