terça-feira, 17 de julho de 2012

Sermão aos frangos

O meu pai teve dois aviários, ditos de multiplicação. O avicultor de multiplicação não cria frangos, vende pintos do dia. Os pintos saíam diáriamente aos milhares por aquelas incubadoras francesas, enormes até ao teto, depois colocávamo-los em caixas de 100, e aí iam eles para os mais estranhos criadores. Nada disto tem especial interesse, para um mundo industrializado, massificado, consumista, os processos e a quantidade são estas. No entanto havia um zelo carinhoso pelas reprodutoras. As reprodutoras não são poedeiras comuns, são galinhas muito especiais, em 100 ovos delas, 95 eclodiam, ou seja, eram galados. Os primeiros bandos importámo-los dos Estados Unidos, e ainda me lembro do meu pai fazer experiências para conseguir selecionar uma estirpe reprodutora. Tudo no aviário girava em torno destas raparigas, tudo. Desde o espaço vital até ao número de galos, sempre suficiente para a coesão do grupo, tudo era humananmente pensado.

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