sábado, 30 de junho de 2012

A contrarreforma educativa

O treino repetitivo de um gesto técnico desportivo permite, não só executá-lo mais rápidamente,  como em situação de jogo, libertar a visão. Esta é uma das vantagens da memorização. Outro exemplo é o da tabuada. No dia-a-dia ainda poderá ser útil fazer contas de cabeça. Quando o ministro Crato apela para o «marranço», sem ironia estará a incentivar-nos para a liberdade, para esta autonomia, para o nosso caráter performativo.

No entanto, a evolução da humanidade faz o caminho inverso, liberta-nos é da memória. Há cada vez mais suportes tecnológicos, com capacidade superior á memória humana, que armazenam o conhecimento acumulado e que, portanto, são muito mais eficazes que a nossa. Há calculadoras de bolso, há calculadora no relógio, há calculadora no telemóvel, na caixa registadora, no computador e, já nem o merceeiro confia na sua tabuada.

Para além disso, há o risco de memorizarmos dados que prescrevam, alguns até duplamente,  primeiro porque já não são úteis a ninguém, e depois, porque já nem sequer existem. Os ramais da CP, por exemplo. A educação é um risco mas é tanto maior quanto menos apostarmos na memória externa.

Resta o problema, pequenino, da necessidade de usarmos memória para sermos gente. Não tanto pela ginástica que nos dá mas sobretudo para sermos mais inteiriços. E aqui está a grande diferença entre o homem performativo de Crato e a opção inteligente da escola do 25 abril.
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