sábado, 5 de maio de 2012

Médico: entre homem e mulher


40 mil quilómetros mais perto da terra

Na quinta de Pontével tínhamos vários cães, lembro-me particularmente de três, do Amarelo, da Luena e do Burro. O Amarelo  era um vadio rafeiro que abrigamos, o Burro, preguiçoso e pesadão, não saía das escadas nem por nada, e a Luena, era uma solitária e bonita pastora alemã. Um dia, reparei que a Luena era a primeira a aperceber-se de estranhos e a dar sinal, só passado vários ladrares é que o Burro se levantava, e meio zonzo lá ía às canelas do ««visitante». Elogiei a inteligência da Luena ao meu pai mas ele contou-me que era o típico sistema de defesa dos cães: «elas» alertavam e «eles» investiam. Hoje fui ao médico práticamente obrigado. Não tenho nada, mas lá fui porque sim, para fazer análises. Contei-lhe o episódio dos «géneros» e o inevitável tema «a mulher é a espécie» veio à baila: o seu «cuidado com a saúde», a sua superior longevidade, etc. Gosto desta conversa de sala com os médicos, e o de hoje lembrou-me que um «acidente» apagou a pontinha inferior direita de um 'x'. Do 'xx' da, então, espécie humana, passámos ao nosso 'xy' dos homens. No fim, bem no fim, já eu vestia o casaco, disse-me: olha, vai aí um pedido de análise às feses para ver se há vestígios de sangue. Olhou-me e fez silêncio. Ó meu caro, podes dar a volta à terra que não encontras ninguém como eu, tão humilde perante os xises e as suas estratégias de posteridade.