segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Miséria


No tempo da Severa (1820-1846) e do "fado marinheiro" (1840), considerados os primeiros registos conhecidos da canção de Lisboa, a capital do reino e os seus africanos eram visos assim por um estrangeiro:


«A mania política tem acometido todos os habitantes da capital, desde o fidalgo e o par do Reino até às fezes da plebe. Apenas os pobres pretos das possessões portuguesas de África, que passeiam aos milhares pelas ruas de Lisboa, são os únicos que não discutem em política, ao menos segundo me consta; mas também não são tratados como homens pelos portugueses, porém como uma raça ruim de animais domésticos. Caiam, durante o máximo ardor do sol, as paredes exteriores das casas e no fim das corridas de touros lançam-se contra a fúria exacerbada daqueles animais. Quando chegam a envelhecer, arrastam-se mendigando pelas ruas de Lisboa, contaminados de enfermidades nauseabundas; com barbas encanecidas que produzem um efeito hediondo nos seus rostos negros». 


- "Portugal em 1842", Félix de Lichnowsky (1814 - 1848).